terça-feira, 9 de julho de 2013

Apenas domingo

   Novamente o dia havia nascido frio e nublado, e nublado estava dentro dele também. 
   Os cigarros haviam acabado, mas ainda era tão cedo para abandonar o calor do seu quarto. Há tempos ele estava tentando parar, mas parecia que aquela fumaça esbranquiçada saindo de dentro de si era parte dele agora. Bom, ele tentará, mas chicletes eram tão sem graça, perdiam o gosto rápido, e ele gostava de coisas que durassem, não que um cigarro durasse muito tempo. 
   Garrafas de vinho acumulavam-se perto da cama, e havia algumas no banheiro também. Este não era um vicio significativo, nem chegava perto de ser, mas nas noites frias de inverno a companhia de um vinho barato caia bem. 
   Ele olhou para o relógio, não soube que dia era, talvez domingo? Não havia muito barulho lá fora, estava calmo, e isso o fez levantar, caminhar por ruas calmas, sem todos aqueles carros e pessoas andando apressadas poderia ser bom. 
   Jogou as cobertas pro lado e encarou o poster da Marilyn Monroe na parede ao lado da janela. Desejou poder encontrar uma Marilyn para si algum dia, não era necessário um vestido branco esvoaçante, não com aquele frio todo, nem cabelos loiros ou uma pinta perto da boca. Apenas alguém, que sorrisse para ele de manhã. O poster da Marilyn sempre sorria, se contentaria com isso então.
   Vestiu-se com roupas quentes e saiu porta afora, desceu rapidamente o lance de escadas e logo estava na rua. Realmente estava calmo, avistou alguém cruzar a esquina lá na frente, mas apenas isso.  
   Nenhum raio de sol para aquecer a alma, mas agradeceu por ao menos não estar chovendo. Sentiu-se infeliz e solitário, como todo dia sentia-se. Caminhou por um longo tempo. As casas estavam mortas, as lojas fechadas, deveria ser mesmo domingo. Ele precisava de um cigarro. 
   Olhou em volta e avistou um pequeno estabelecimento aberto. Atravessou a rua e entrou no local, estava mais quente do que lá fora e cheirava a café fresco. 
    - Posso ajudar? - Perguntou o senhor com cara de sono atrás do balcão.
    - Preciso de alguns cigarros. - Ele disse metendo a mão nos bolsos, atrás de algum dinheiro.
    - Não vendemos cigarros aqui.
    - Um café então? -  O homem acenou com a cabeça e entrou em uma porta. 
   As mesas estavam todas vazias, exceto por alguém com cabelos castanhos. Ele dirigiu-se para uma das mesas, sentou-se e esperou por seu café enquanto observava a garota de cabelos castanhos, ela lia algum livro e fumava um cigarro. Ele pensou em ir até lá dizer olá, mas ficou onde estava. 
   O homem apareceu com uma bandeja com duas xícaras cheias de café, foi até a mesa da garota e depois até a dele. O café estava realmente quente, um pouco forte, mas servia para mandar o sono embora. 
Após algum tempo ele percebeu que a garota o olhava desconfiada. 
    - Você quer um cigarro? - Ela perguntou subitamente de onde estava sentada. Ele sorriu. Sim, ele queria.
   -  Se não for fazer falta, eu aceito sim. - Ele respondeu. Nenhum dos dois levantou de onde estava, e então ela jogou o masso para ele, as mesas não era muito longe e como estavam um de frente para o outro não foi difícil conseguir pegar. Ele pegou um cigarro e jogou novamente para ela.
   - Obrigado. Eu realmente estava precisando. - Ele achou o isqueiro no bolso e acendeu o desejado cigarro.
    - Eu percebi. - Ela riu, seu dentes eram um pouco tortos, mas eram de um branco profundo. Um belo sorriso, ele pensou. - Desde que você entrou aqui não parou de olhar pra mim, implorando com os olhos por um trago. 
     - Talvez não fosse só pelo cigarro. - Ele respondeu e ela sorriu em silencio. Algum tempo passou, o café de ambos havia acabado e o silêncio prevaleceu. Não que ele fosse ruim, era até agradável.  A garota levantou-se, enrolou o cachecol no pescoço e colocou algum dinheiro na mesa, pronta para ir embora.
     -  Como é o seu nome? - Ele finalmente perguntou.
    - Audrey. - Ela respondeu, sem perguntar o dele. Ele apenas sorriu, ela acenou e então partiu. Ele, ao chegar em casa avistou o poster da Marilyn, ela sorria com aqueles cabelos loiros e decote exagerado. Estava cansado dela. 
    - Audrey. - Ele disse para sim mesmo. - É um nome bonito. - E então resolveu que Marilyn Monroe partiria no dia seguinte, talvez uma Audrey Hepburn ficasse mais bonita em sua parede. 
 

3 comentários:

  1. Eu realmente gostei desse texto e desse blog, o blog dá uma sensação gostosa, é bom ler, não sei explicar, mas costumo me identificar com alguns blogs antes mesmo de ler, o seu foi assim. Li e gostei tanto.

    Seu texto me deu margem para vários pensamentos, um moço que queria ao menos alguém que sorrisse pra ele, isso é bonito. Também gosto de imaginar esses encontros que a vida proporciona, duram o suficiente para ficarem refletidos pra sempre na memória da gente. Enfim, adorei.

    Beijos, moça.
    www.semprovas.blogspot.com / www.eraoutravezamor.blogspot.com

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  2. Uau! Você é incrível com textos, sério. Estou encantada com o blog e com sua criatividade. Vou tentar voltar aqui sempre que puder, acho que virei sua fã.

    http://florescerepalavrear.blogspot.com.br/

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  3. Caraca, você escreve muito bem! Quem me dera esbarrar com uma "Audrey Hepburn" por aí e posso jurar que prefiro a ela também. hahaha
    Consegui imaginar cada cena, sensacional!

    beijos

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